Page 46 - Livro Ana Clara - Discursos Diretos_
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Paquistão, muçulmana, 49                                 Quando os ataques de Paris aconteceram, pessoas que
                                                                     sabem sobre minha descendência árabe debocharam de
            “Todos deveriam se abrir e ler sobre o Islam, e então, se   mim e me provocaram perguntando se eu era terrorista
            desculpar por todos os seus erros.”                      e se havia ajudado nos ataques. Eu estava com nojo,
                                                                     mas tentei não parecer imatura. Logo, VÁRIAS discus-
            Brasil, não muçulmana, 12                                sões sobre os refugiados da Síria estavam acontecendo
                                                                     ao meu redor, e para o meu terror, a maioria das pes-
            “Então, a minha opinião é a seguinte: eu acho que o      soas acusavam com raiva todos os sírios e muçulmanos
            terrorismo não necessariamente é a religião. Eu apenas   de serem terroristas e concordaram em não abrigar os
            acho que algumas pessoas usam o nome da religião para    refugiados. Doeu o meu coração, porque essas pesso-
            o seu radicalismo. É como se a religião fosse um álibi   as inocentes querem vidas normais e também querem
            para eles. Não é porque a pessoa é muçulmana que ela     escapar dos terroristas! Naquele momento eu pensei:
            é terrorista, e quando uma pessoa pensa assim eu tento   “eles estão falando sobre o MEU povo. Se os refugiados
            fazer com que ela entenda, e não “travo uma guerra       tivessem sido negados anos atrás, eu não seria nascida,
            com ela”, o que só seria pior.                           ou pelo menos não estaria em um lugar em que a Cons-
                                                                     tituição  existe.”.
            Eu me sinto mal pelo fato de que algumas pessoas são
            oprimidas e agredidas (verbalmente ou não) porque ou-    Alguém continuou mostrando para os meus amigos ima-
            tros usaram o nome de sua religião para fazer algo que   gens estúpidas que brincavam com os terroristas sírios,
            essa própria religião é contra. Eu sou uma católica que   e eu fiquei tão cansada e estressada com isso... Eu me
            pensa assim: não é porque você é muçulmano que você      posicionei, mas rapidamente fui atacada por muitos e
            é terrorista.”                                           colocada de lado, como se meus pensamentos e exposi-
                                                                     ção de fatos os tivessem contrariado.
            Estados Unidos, não muçulmana, 16
                                                                     Eu sinto como se não conseguisse ao menos me posicio-
            “Eu acho sensacional que você esteja fazendo isso, por-  nar politicamente a favor do meu, o que não está certo
            que movimentos PRECISAM acontecer e nós todos pre-       porque, na verdade, essas pessoas não sabem o que está
            cisamos ser ouvidos!                                     acontecendo. Por isso, elas não devem decidir quais são
                                                                     os direitos   de   um   muçulmano/árabe.   Eu   sei   que
            Minha mãe e a família dela são da Síria. Mesmo que       os   refugiados   não têm, tecnicamente, os mesmos di-
            metade de mim seja descendente de árabes, eu não te-     reitos da nossa nação, mas nem foi dada uma chance a
            nho tido como aprender muito sobre a origem da minha     eles, então por que não os dar essa chance e não desistir
            família, devido a pressa deles de vir para a América, a   de seres humanos iguais a nós?”
            mudança de sobrenome para serem mais americanos, e
            porque a Síria tem estado caótica. De qualquer forma,
            eu continuo tentando aprender sobre a Síria o máximo
            que consigo, tenho orgulho de minha origem e espero
            aprender um pouco da língua árabe um dia.





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