Page 16 - Livro Ana Clara - Discursos Diretos_
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Certa vez, decidi mandar uma carta para a casa dela, prin-  Foram situações vergonhosas e diálogos que eu nunca pensei
            cipalmente para sair um pouco dessa comunicação distante.   que teria. Posso dizer que nossa amizade foi o ponto de par-
                                                                     tida e, graças a ela, hoje já sei bastante sobre o Paquistão, e
            Queria que ela tocasse algo que eu já havia tocado, queria   tenho muita vontade de conhecê-lo.
            mostrar que nossa amizade era real, sim.
                                                                     Um dos meus principais planos é, sim, conhecer a Mashal,
            Depois de meses tentando localizar o endereço certo – mes-  mas por enquanto é muito complicado. Ainda mais porque é
            mo ela já tendo me falado antes –, finalmente escrevi e man-  difícil ela conseguir um visto até para os Estados Unidos.
            dei. Não contei nada para ela. Esperei ansiosamente por uns
            dois meses até chegar o dia em que ela me mandaria uma   Mesmo assim, nada nos impede de fazer planos e ter grande
            mensagem surtando.                                       determinação em relação a um futuro encontro.

            O risco de não chegar era enorme. Mas chegou. E ela surtou,   Uma série, uma rede social, uma língua e uma boa escolha
            como eu havia imaginado. Me mandou vídeos e fotos com o   me colocaram em contato com uma nova cultura e isso tudo
            envelope nas mãos. Foi um dos melhores momentos da minha   foi incrível. Minha amizade com a Mashal é uma das melho-
            vida.                                                    res coisas que aconteceram na minha vida e continua sendo,
                                                                     me faz crescer como pessoa e sou extremamente grata por
            Foram e são muitos momentos, na verdade. Continuamos en-
            trando no FaceTime sempre que conseguimos, desabafamos
            uma com a outra, rimos demais, compartilhamos nossas vidas
            tão diferentes e tão iguais, trocamos conhecimentos e, prin-
            cipalmente, cultura.


            Com a Mashal eu descobri não apenas a religião islâmica,
            mas também, infelizmente, a islamofobia. E foi assim que
            me interessei por essa causa. Ela, uma das minhas melhores
            amigas, não é terrorista.

            Fiquei  chocada ao saber  dos estereótipos  criados  sobre  os
            muçulmanos. Eu converso com uma muçulmana praticamen-
            te todos os dias e sei muito bem que ela não é violenta. Ela
            não é, de forma alguma, uma ameaça.

            Muitas pessoas já reagiram de formas horríveis em relação à
            minha amizade com a Mashal. E eu, sempre que algo do tipo
            acontece, respondo: “Não, eu não estou correndo perigo”.


            “Não, ela não  vai me  bombardear”.  “Não, ela não é do
            Daesh”. “Não, ela não tem pensamentos maus”.






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